6 de jun. de 2007

PARA QUE ODIAR CAETANO? / Thiago Pereira



PARA QUE ODIAR CAETANO?

Thiago Pereira





Caetano Veloso não é apenas um músico - é uma entidade, um totem, um verbete sem parâmetros dentro da música popular brasileira. Caetano já virou verbo. Caetano já virou adjetivo. Caetano já virou palavrão. Caetano fala muito - as pessoas perguntam muito a Caetano. Caetano escreve muito - as pessoas cobram opiniões demais a Caetano. Caetano têm opiniões fortes, polêmicas - e é isso que as pessoas esperam de Caetano. Então, para que odiar Caetano?

Se você conseguiu superar esse primeiro parágrafo, onde o nome de Caetano é citado 11 vezes, perceba: nem você nutre tanto ódio assim pelo baiano.
Ah, como deve ser difícil o exercício da vida pública, assim, entre o pedantismo acadêmico e a plasticidade exigida pelas revistas de fofoca. Caetano Emanuel Viana Teles Veloso que o diga, sempre emparedado entre o star system brazilis e a condição de artista referência na maioria das faculdades de comunicação no Brasil. Particularmente, ele preenche com louvor meus requisitos para considerar alguém um grande artista. Grande cantor, pelo menos vinte ou trinta canções que passam grandiosas pelo crivo do tempo, um número ainda maior de boas letras que não receberam músicas a altura. Um leque de seguidores que prestaram bons serviços, apesar de um número grande de influenciados que contribuem (indiretamente) para o engessamento desnecessário da MPB. Mas culpar sempre o criador pelas imitações de baixa qualidade que infestam o mercado me soa injusto.


Caetano acompanha novas tendências (nem sempre as cria, como parece acreditar) e muitas vezes acerta a mão. Muito se criticou a regravação em 98 de "Jorge Da Capadócia" cometida no disco ao vivo "Livro Vivo" (e assumidamente na cola da versão então recém lançada dos Racionais MC´s), pouco se lembrou da beleza que a música continha. Muito se desdenhou da tentativa de rap em "Língua", no final dos 80, pouco se falou da presença de uma então pouco lembrada Elza Soares lustrando a canção.


Muito se zombou dos sons estrangeiros cometidos por ele, poucos se lembram que ele faz uma "Jokerman" infinitamente melhor que a do autor Bob Dylan. Agora ele está de volta com novo trabalho, exibindo velhas-novas características de sua obra e carece ser analisado mais como o artista do que como a figura pública No caso de "Cê", enaltecido: é uma bola dentro no gol do rock ,ao contrário de alguns exemplares esquecíveis nos anos 80, ou da mais recente "Rock N´Raul". Faixas como "Outro", "Rocks" e "Deusa Urbana" garantem uma série de rocks discretos, pouco vigorosos, mas com densidade incomum num tempo em que o gênero no país é quase sinônimo de letras ruins e pancadas de guitarra domesticadas.


É absurdamente normal que um moleque de poucos anos de idade considere Caetano um caretano, um mala. Dependendo do ponto de vista, é até melhor assim, mais saudável. A própria história do bardo baiano defende essa tese, afinal a apolínea bossa-nova pouco tinha a ver com a carnavalizante Tropicália - e é natural não perceber no calor da hora que precisamos dos dois. E, como diria um velho amigo, adolescente odara demais tem grandes chances de se transformar em um desses yuppies escroques que vivem nos alugando com um papo de música adulta, etc. Mas daí anos depois vir a culpar Caetano pela crise da industria fonográfica brasileira, pela corrupção da política nacional ou pela não-procriação dos pandas asiáticos no inverno, considero um pouco além da conta.



"Odeio você",canta ele na canção que mais se destaca nesse novo trabalho. Mas, você, cheio de coisas mais importantes para fazer, não precisa odiar Caetano não. Pode até gostar, sem culpas.

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